O avanço da transformação digital está remodelando profundamente a sociedade, impactando desde a forma como as pessoas se relacionam até o modo como os governos entregam serviços públicos.

Nesse cenário, os líderes de tecnologia emergem como figuras centrais não apenas para impulsionar a inovação, mas também para construir políticas públicas éticas, inclusivas e sustentáveis.

Com investimentos recordes em ciência e tecnologia, o Brasil sinaliza um compromisso com o futuro, mas esse movimento exige que os tomadores de decisão estejam preparados para guiar essas mudanças de forma estratégica e responsável.

Liderança tecnológica e políticas públicas: convergência urgente

Durante o evento *Rumo Futuro“, realizado em São Paulo em 2023, especialistas de diferentes setores discutiram o papel da liderança tecnológica na criação de um ambiente regulatório que favoreça tanto o desenvolvimento quanto a proteção de direitos.

A regulação de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial (IA), foi um dos principais temas. Líderes de tecnologia foram apontados como agentes essenciais para equilibrar inovação e responsabilidade social.

Esse debate se conecta diretamente ao momento vivido pelo país: entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, o Brasil investiu mais de R$ 26,3 bilhões no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), um recorde histórico.

Parte desse esforço visa justamente fomentar um ecossistema capaz de produzir inovação com governança, onde líderes tecnológicos atuem lado a lado com o poder público.

Inteligência artificial e o desafio da regulamentação

A IA é uma das frentes mais sensíveis da atualidade. Sua capacidade de operar de maneira autônoma, analisar grandes volumes de dados e tomar decisões exige atenção especial por parte dos governos.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) prevê investir cerca de R$ 23 bilhões em IA até 2028, um indicativo da relevância que a área tem para o país.

Entretanto, regulamentar IA de forma eficiente exige uma abordagem colaborativa. Os líderes tecnológicos, com sua bagagem técnica e visão sistêmica, devem participar ativamente da elaboração de marcos legais que garantam inovação com segurança.

Também cabe a eles incentivar o diálogo com outras áreas do conhecimento, como o direito, a sociologia e a filosofia, assegurando que a IA seja desenvolvida e utilizada com base em princípios éticos.

Participação social e ética na tomada de decisões tecnológicas

A construção de políticas públicas eficazes em tecnologia não pode prescindir da participação social. Decisões que envolvem o uso de dados, vigilância digital ou algoritmos de seleção devem considerar o impacto direto sobre os cidadãos.

Os líderes de tecnologia que atuam no setor públic, ou em parceria com ele, devem promover processos transparentes, com linguagem acessível e canais de escuta ativa.

Essa postura ganha ainda mais importância quando se considera a distribuição dos investimentos nacionais. Em 2024, o governo federal destinou R$ 3,1 bilhões para incentivar a ciência e a inovação, com foco nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Além disso, R$ 100 milhões do FNDCT foram direcionados à consolidação de Parques Tecnológicos em estados com menos acesso a infraestrutura científica, como Acre, Alagoas, Amapá, Maranhão, Piauí e Rondônia.

Esses aportes não apenas descentralizam o desenvolvimento tecnológico, como exigem líderes preparados para adaptar soluções às realidades locais. É fundamental que esses profissionais conduzam projetos com sensibilidade territorial e foco em inclusão digital.

Formação de servidores e fortalecimento institucional

A construção de um Estado digital e inovador depende da qualificação de seus servidores. Em entrevista recente, Betânia Lemos, presidenta da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), destacou que os líderes públicos precisam estar alinhados às transformações tecnológicas, não apenas como usuários de ferramentas, mas como agentes capazes de conduzir projetos estratégicos e formular políticas com base em evidências.

Ela também ressaltou a importância de uma carreira estruturada para servidores da Enap, capaz de reter talentos e assegurar continuidade nas políticas, independentemente das trocas de governo. Para isso, a modernização da infraestrutura educacional e a ampliação dos programas de formação são ações prioritárias.

Tais estratégias fazem ainda mais sentido diante dos investimentos robustos em inovação tecnológica: o [Brasil direcionou R$ 186,6 bilhões para impulsionar a transformação digital da indústria, somando recursos públicos e privados.

A chamada Missão 6 da Nova Indústria Brasil, que inclui projetos como o caça Gripen e o avião KC-390, receberá R$ 112,9 bilhões, evidenciando o quanto o país está disposto a apostar em tecnologia de ponta como motor de desenvolvimento.

Diversidade e inclusão como princípios estruturantes

A construção de um futuro digital também passa pela valorização da diversidade e da inclusão nas equipes públicas. Para Betânia Lemos, a presença de diferentes perfis, vivências e territórios entre os servidores é essencial para que as políticas públicas respondam às necessidades reais da população.

Líderes de tecnologia têm o dever de promover espaços de trabalho plurais, que incentivem a escuta ativa e valorizem a equidade. Isso não apenas torna as soluções mais justas, como também fortalece a democracia e aumenta a legitimidade das inovações implementadas no setor público.

Concluindo, a atuação dos líderes de tecnologia na formulação de políticas públicas não é mais opcional – é estratégica para o futuro do Brasil. Diante de um contexto de investimentos recordes em ciência, inovação e inteligência artificial, o país tem a oportunidade de se posicionar como uma referência em desenvolvimento tecnológico ético, inclusivo e responsável.

No entanto, para que isso aconteça, é fundamental que esses profissionais estejam preparados para mediar os interesses do setor privado, do poder público e da sociedade civil, transformando o conhecimento técnico em decisões que impactem positivamente a vida de milhões de brasileiros.

O futuro está sendo desenhado agora – e os líderes de tecnologia são parte essencial dessa construção.